Dino de Alcântara
CONTO-ANEDOTA
Não se sabe com precisão como no Maranhão as clínicas de depilação (sim... até nas partes íntimas) passaram a ter uma boa clientela.
O que se sabe – e está nos anais da vida alheia – é que o primeiro médico a defender a depilação tanto nas axilas, quanto nas partes íntimas, foi o Dr. Joaquim Lobato, nos idos de 1970.
O afamado médico, morador de um sobrado luxuoso na Rua do Passeio, casado com uma moça de Alcântara muito bonita, Ana Beatriz, capaz de fazer até o príncipe Páris perder a cabeça, defendia a medida como método de higiene, não de estética, como andaram dizendo uns abelhudos da imprensa local.
O Jornal do Povo, em que o professor Cardoso publicava umas quadrinhas de saliência, estampou na página de variedades:
Na Santa Casa do Maranhão,
O médico Doutor Lobato
Atende com uma navalha na mão,
Dando nos pentelhos um trato!
Por sua vez, O Abelhudo, de linguagem bem mais grosseira, tanto que era proibido entrar em muitas casas de família, publicou, sem nenhum pudor, um epigrama bizarro, assinado por um pilantra de nome Cazuza:
Quem estiver com cabelo,
No sovaco ou no xiri...
Cuidado com o Lobato
Não correr atrás de ti!
Um parêntese (se o estimado leitor não conheceu a linguagem de esgoto de alguns redatores maranhenses... não perdeu grande coisa.).
Certa feita, numa reunião com parentes e amigos, o Dr. Lobato, celebrando os seus 60 anos bem vividos, ao lado de sua mulher, de 40 anos, voltou a falar sobre o assunto que tanto o instigava.
– Vejam uma coisa: por que a mulher índia não tem pelo nem no sovaco, nem no sexo?
E como esperou uma resposta, mas sem que ela viesse...
– Ora... simples... Nenhum animal tem pelos no sexo, já repararam? Só a mulher e o homem têm... Então, eu defendo que raspem. Homens e mulheres devem raspar ou depilar, como se fala hoje em dia, as axilas e o sexo. É muito mais higiênico. Pelo não tem nada de positivo. Se tivesse, as índias teriam, não acham?
O padre Leopoldo, que muitos diziam não exercer o sacerdócio como mandava o Papa Paulo VI, entrou na conversa, dizendo que achava mesmo prudente, até porque não encontrava nada na Bíblia que dissesse o contrário.
– Pois, é Padre Leopoldo. A mulher precisa, por uma questão de saúde, se depilar. Tenho recebido na Santa Casa muitas mulheres que chegam com cabelos enormes, dizendo que nunca se depilaram. Algumas têm até piolhos nas partes íntimas. E durante a menstruação... nem se fala. É uma coisa horrorosa, com coceira e tudo mais. É preciso tratar melhor dessa questão, que é um tabu nesta nossa terrinha.
Algumas mulheres presentes sacudiram a cabeça como a concordar, mas nunca se soube se elas já haviam aderido ao costume pregado pelo médico.
O Padre Leopoldo, para assentir às palavras do eminente homem da saúde, desferiu, sem que pudesse digerir bem o sentido de suas palavras:
– É o que lhe digo, Lobato... é preciso fazer uma campanha maior, pois sinto que só você tem se empenhado nessa questão. A Secretaria de Saúde finge que isso é coisa sem importância. Os jornais, como se tem visto, fazem é debochar. Mas não se esqueça, meu amigo, que Cristo enfrentou barreiras muito maiores e nunca desistiu.
Como a plateia desse ouvidos, o padre, que já havia ingerido duas ou três taças de vinho do Porto e uma de St-remy, um conhaque francês, famoso na casa dos ricos, desferiu, sem que percebesse a cara de espanto de todos, incluindo a do anfitrião:
– Tirando dona Beatriz, eu não conheço aqui mais ninguém que raspe o...
De queixo caído diante da confissão do pároco, algumas mulheres, vermelhas que nem camarão, aguardaram a palavra “xiri”... Mas o sacerdote freou a língua a tempo.
– A vagina!