segunda-feira, 6 de maio de 2024

FAZER MAL - OU BEM?

 Dino de Alcântara

 

Naquela manhã de agosto de 1952, diante do delegado Delvete, em Alcântara, Dona Concita, esbravejava, ao lado da filha, a Josefina, contra Feliciano, no dizer dela, um larápio da pior espécie.

Diante das perguntas do Delegado, Dona Concita contou ela mesma, sem deixar que a filha narrasse, toda a situação envolvendo a desgraça que o larápio havia praticado contra a menina dentro do bananal de Zuza.

Estando na sala do Delegado, o padre Toinho, ouvia atentamente a narrativa, ora com um benza-te Deus, ora com um ar de susto.

Lá pelas tantas, depois de ouvir do delegado que ele intimaria o caboco para que viesse prestar depoimento, a mãe disse que havia ainda coisa pior:

O padre, assustado, tomou a dianteira, e perguntou o que era.

– Esse disgramado emprenhou minha filha.

O padre arregalou os olhos!

– Quer dizer... foi muito mal feito o que ele fez.

O padre Toinho, sem conter um riso cínico no canto da boca:

– Minha senhora, desculpa. Mas... não foi mal feito, senão ela não tinha emprenhado!

segunda-feira, 29 de abril de 2024

CORNO AQUI NÃO!

 

 Dino de Alcântara

 

O Padre Inácio, da Paróquia do Lira, era conhecido, em todo o bairro e adjacências, pela língua graúda que possuía e pela rapidez com que a manejava. Diziam, à boca miúda, que ele bem fazia os pasquins do Judas, na Madre Deus.

Certa feita, visitando as suas ovelhas, algumas desgarradas pelos caminhos da vida, encosta na quitanda de Zé Baiacu, perto da Praça da Saudade, para meter uma Jeneve, refrigerante que gostava por demais, quando encontra, em plena hora de serviço, Língua de Sapo, conhecido jornalista do Povo, que assinava matérias políticas e variedades, metendo uns grodes com Damião, policial militar da ativa, mas de folga, com o barqueiro Caju, do Cujupe, e mais dois outros desconhecidos.

 Já com uns grodes a mais, o jornalista, de língua solta, discursa sobre questões de adultério, contando casos de magistrados e políticos que já tinham levado os chavelhos da vida. E, numa empolgação que só a cachaça consegue dar, vociferou:

– Se eu fosse Zé Baiacu, botava uma placa aqui na entrada: “Proibida a entrada de corno!”, e riu à solta.

Ao que o padre Inácio, que já estava subindo o último degrau para adentrar a quitanda, não se aguentou, mesmo sabendo que poderia perder uma futura ovelha, pois era do tipo “perco um amigo, mas não perco a piada!”

– E onde é que vais meter teus grodes, meu filho?


 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

UMA VISÃO DO PARAÍSO

  Dino de Alcântara

Teatrinho a Vapor


NERES – Professor, nascido e criado em Itapecuru-Mirim, de mudança para São Luís, por conta de um concurso público. Está à procura de uma casa para alugar no centro da cidade.

MAURO – Dono de uma porta-e-janela na Rua dos Afogados. Aprendeu cedo as malícias usadas no comércio de São Luís

Cenário: Porta de uma casa na Rua dos Afogados.

A cena passa-se em 1985.

NERES (À porta da rua, espiando para todos os lados.) – Seu Mauro, estava escrito no anúncio que a casa tinha a vista mais linda da cidade. Não estou vendo essa vista...

MAURO (Apontando para a casa da frente, falando baixinho para ninguém ouvir) – A vista costuma aparecer de tardinha.

NERES – De tardinha? Como assim?

MAURO (Falando ainda baixinho) – A tais horas, Belinha, filha do coronel Gonçalo, morador aí da frente,  fica debruçada na janela!

 


segunda-feira, 15 de abril de 2024

O ACOMPANHANTE


  

Dino de Alcântara

Porta de uma padaria famosa do Renascença. Ao abrir a porta do seu carro, o desembargador aposentado Gomes Torreão, já quase setentão, mas com os neurônios mandando aviso de que não tinha ainda completado os sessenta,  dá de cara com três jovens: um rapaz e duas meninas que fariam rivalidade com as mais belas musas dos poetas do Século XIX.

Olhou para as duas garotas – na casa de seus 19, 20 anos – e depois para um flanelinha, já mais para lá do que para cá – em termos de idade.

– Olha – disse-lhe o flanelinha –, o que me falta é dinheiro, porque coragem eu tenho de sobra.

Torreão entrou na onda:

– O que esse cara tem que nós não temos?

– A juventude.

Meio triste, o magistrado foi obrigado a concordar com o seu interlocutor.

– Mas ele pode ser apenas o arroz! – avaliou o guardador de carros.

– Arroz?

– Sim. Só o acompanhante!

 

FAZER MAL - OU BEM?

 Dino de Alcântara   Naquela manhã de agosto de 1952, diante do delegado Delvete, em Alcântara, Dona Concita, esbravejava, ao lado da filh...