segunda-feira, 30 de setembro de 2024

ANDAR ATRÁS DE MULHERES

 Dino de Alcântara

 

Antes da chegada das estradas, que, aliás, estão em péssimas condições, as pessoas andavam, no Cujupe, em caminhos – ou, como Chico Cavalcante costumava dizer, caminhos do mato.

Como eram estreitos, os caminhos permitiam a chamada fila indiana, um atrás do outro, nunca ao lado, como nos passeios em São Luís. E, costume desde os tempos do Brasil Colônia, os homens andavam atrás das mulheres. Segundo Manoel Cavalcante, pai de Gregório, o costume era assim porque os homens protegiam as mulheres de um ataque de uma onça ou de outro bicho grande. Andar na frente, a onça pulava na mulher, e o homem nem sabia. Por isso, o costume de andar sempre atrás. “De dia ou de noite, bota-se a mulher na frente!”, costumava dizer aos filhos. 

 
 Detalhe: Caminhos do Cujupe.
 
Não estava pensando em caminhos do Cujupe, nem em onças, referidas pelo sogro, quando Bazilha, esposa de Gregório, conhecido em toda a região por ser um velhaco, um predador, um gavião à caça de mulheres, o chamou à razão:

– Olha, Gregório, isso não tá certo.

– O que, pequena?

– Isso de tu andar atrás das mulheres? Olha isso é muito feio!

– E tu queria o quê, que eu andasse na frente?

 

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