segunda-feira, 13 de outubro de 2025

OS SAPATOS

 

Dino de Alcântara

 

Teatrinho a Vapor

 


DR. ANTUNES – Advogado. Possui dois pares de sapatos, um preto e um marrom. O preto está novinho, ao passo que o marrom está bastante gasto pelo tempo e pelas ruas de São Luís, que – na época – não eram bem cuidadas.

MANELINHO – Criado. Rapaz de seus 16 anos. É português de família bem pobre que para o Maranhão emigrou em busca de melhores condições de vida. Tem uma característica acentuada: os neurônios ainda não se desenvolveram de forma satisfatória... Ainda está tentando entender o que um B e um A produzem de som.  


Cenário: Sobrado da casa do Dr. Antunes, na Rua do Sol, quase já perto da Rua de São João.


A cena passa-se em novembro de 1907.


PRÓLOGO: Vestindo-se para ir ao Tribunal de Justiça do Maranhão, na Avenida Maranhense, por conta de uma audiência, o Dr. Antunes manda que o criado vá até o quintal e traga os sapatos, que, depois de uma boa graxa, estavam “pegando um ventinho...” E, antes que lhe fosse explicado quais – se os pretos ou os marrons –, Manelinho sai desembestado na carreira em demanda dos pisantes.

 

DR. ANTUNES (Quase gritando.) – Oh, Manelinho, traz os novos...

MANELINHO (Trazendo o pé direito preto e o pé esquerdo marrom.) – Está aqui, senhor.

DR. ANTUNES (Observando.) – Mas o que é isso?

MANELINHO – Isso o quê, seu Antunes?

DR. ANTUNES – Tu me trouxeste um sapato de cada cor! Vai pegar o outro.

(Manelinho desce as escadas correndo e retorna com as mãos vazias.)

MANELINHO – Senhor...

DR. ANTUNES – O quê, Manelinho?

MANELINHO – Os que ficaram lá são do mesmo jeito: um de cada cor.

 

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