Dino de Alcântara
Teatrinho a Vapor
DR. ANTUNES – Advogado. Possui dois pares de sapatos, um preto e um marrom. O preto está novinho, ao passo que o marrom está bastante gasto pelo tempo e pelas ruas de São Luís, que – na época – não eram bem cuidadas.
MANELINHO – Criado. Rapaz de seus 16 anos. É português de família bem pobre que para o Maranhão emigrou em busca de melhores condições de vida. Tem uma característica acentuada: os neurônios ainda não se desenvolveram de forma satisfatória... Ainda está tentando entender o que um B e um A produzem de som.
Cenário: Sobrado da casa do Dr. Antunes, na Rua do Sol, quase já perto da Rua de São João.
A cena passa-se em novembro de 1907.
PRÓLOGO: Vestindo-se para ir ao Tribunal de Justiça do Maranhão, na Avenida Maranhense, por conta de uma audiência, o Dr. Antunes manda que o criado vá até o quintal e traga os sapatos, que, depois de uma boa graxa, estavam “pegando um ventinho...” E, antes que lhe fosse explicado quais – se os pretos ou os marrons –, Manelinho sai desembestado na carreira em demanda dos pisantes.
DR. ANTUNES (Quase gritando.) – Oh, Manelinho, traz os novos...
MANELINHO (Trazendo o pé direito preto e o pé esquerdo marrom.) – Está aqui, senhor.
DR. ANTUNES (Observando.) – Mas o que é isso?
MANELINHO – Isso o quê, seu Antunes?
(Manelinho desce as escadas correndo e retorna com as mãos vazias.)
MANELINHO – Senhor...
DR. ANTUNES – O quê, Manelinho?
MANELINHO – Os que ficaram lá são do mesmo jeito: um de cada cor.
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