Dino de Alcântara
O Padre Inácio, da Paróquia do Lira, era conhecido, em todo o bairro e adjacências, pela língua graúda que possuía e pela rapidez com que a manejava. Diziam, à boca miúda, que ele bem fazia os pasquins do Judas, na Madre Deus.
Certa feita, visitando as suas ovelhas, algumas desgarradas pelos caminhos da vida, encosta na quitanda de Zé Baiacu, perto da Praça da Saudade, para meter uma Jeneve, refrigerante que gostava por demais, quando encontra, em plena hora de serviço, Língua de Sapo, conhecido jornalista do Povo, que assinava matérias políticas e variedades, metendo uns grodes com Damião, policial militar da ativa, mas de folga, com o barqueiro Caju, do Cujupe, e mais dois outros desconhecidos.
Já com uns grodes a mais, o jornalista, de língua solta, discursa sobre questões de adultério, contando casos de magistrados e políticos que já tinham levado os chavelhos da vida. E, numa empolgação que só a cachaça consegue dar, vociferou:
– Se eu fosse Zé Baiacu, botava uma placa aqui na entrada: “Proibida a entrada de corno!”, e riu à solta.
Ao que o padre Inácio, que já estava subindo o último degrau para adentrar a quitanda, não se aguentou, mesmo sabendo que poderia perder uma futura ovelha, pois era do tipo “perco um amigo, mas não perco a piada!”
– E onde é que vais meter teus grodes, meu filho?