segunda-feira, 28 de julho de 2025

MENTE GELADA

 Dino de Alcântara

 CONTO-ANEDOTA 

 

  Sobrado da senhora Diortina, viúva, no Largo do Desterro, idos de 1940. É tarde de um dia quente de outubro.

  Ela, mulher na casa dos 70, bem avançados, com umas marcas de demência, a que muitos chamavam de caduquice, manda o chofer do sobrado ir à Casa Arruda, ali no Largo do Carmo, comprar meio quilo de gelo para botar num refresco de maracujá, com o qual receberia duas amigas de longas datas, que há tempos não a visitavam.

  Ele, que se acostumara a ir mais de uma vez a um lugar, porque a patroa esquecera algum produto:

  – Senhora, além do gelo, mais alguma coisa pra aviar?

  – Não, Justino. Só meio quilo de gelo.

   E, antes que ele saísse porta a fora:

  – Pede pra botar bem pesado e do mais gelado que tiver.

 

 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

UMA DISCUSSÃO POLÍTICA

  Dino de Alcântara

 

MINICONTO 

 

Uma discussão acirrada no Anjo da Guarda. Imagem criada com auxílio da I.A.

 

Dia 06 de outubro de 2024. Dia das Eleições para prefeito e vereadores. Anjo da Guarda. Apesar de a Justiça proibir bebidas alcoólicas nesse dia, um grupo de homens, a maioria na casa dos 40 aos 60 anos, tomava cerveja num boteco bem popular. A conversa ganhou ares de discussão acirrada.

– Zé, tô te falando...

– Que nada, doido...

– Rapaz, se tirarem ele, tu vai ver como vai piorar muito.

– Vai melhorar... Esse cara não faz nada. Tem é que tirar logo.

– E quem vai entrar?

– Ora quem!...

Logo todos entram na discussão. Ninguém mais sabe quem está falando, dada a confusão de vozes.

– Eu te garan...

– Porra nenhuma!

– Vai te lascar!

– Tu é fuleiro, qualhira?

– E esse cara?

– O que têm?

– Presta?

– Não vale um cajá bichado.

– Pra ti ninguém presta!

Ficaram nessa confusão, até que o dono do boteco, já impaciente, botou uma Glacial gelada na mesa e acabou com o comício...

Dono do bar chegando para aplacar a discussão - imagem gerada com auxílio de IA


– Deixem de confusão, que os jogadores do Vasco nem sabem que vocês existem...  E outra: isso não ganha mais nem torneio de peteca!

 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

           Dino de Alcântara 

          

                                      MicroCONTO (ou será miniconto?)



Há tempos o gerente da loja New Arpazo, da Rua Grande, tinha certeza de uma coisa: funcionário precisa ter qualificação. Sem isso, nem para limpeza da loja, ele queria. 

Assim, quando o vendedor Fernando lhe comunicou que estava saindo da empresa para uma outra, no Shopping São Luís, mas perto de sua casa, ele (o gerente) não pensou duas vezes: Fazer um anúncio nas redes sociais da loja para contratar um outro funcionário. E, lógico, queria com boa qualificação. Não ia botar dentro da loja que ele gerenciava um capiau que nem sabia a diferença entre um cinto de marca e um que se comprava no camelô.


Loja New Arpazo - imagem gerada com auxílio de IA

Anúncio feito, apareceram dezenas de candidatos com seus currículos. Um vendedor, conhecedor de RH, porque já havia trabalhado na C-Rolim, selecionou três, mas sem observar os currículos. Selecionou com base em “poder de expressão, dinâmicas e conhecimentos que os candidatos tinham de vendas. A palavra final devia ser dada por seu Claudionor (esse era o nome do gerente).



Claudionor analisando os currículos - imagem gerada com auxílio de IA

De posse dos três currículos, o gestor da loja viu que dois deles tinham cursos de graduação e um até de especialização. O terceiro... nada. Nenhum curso – nem de graduação, nem os chamados cursos técnicos... E fazer o quê?


Após entrevistar o primeiro candidato e, em seguida, o segundo... Ficou na dúvida. Os dois eram muito bons. E o terceiro... bom. Nem era para entrevistar. Currículo zerado! Ia dar cartão vermelho na hora. Poderia até dar um conselho ou um baile de esculhambação... no candidato e no funcionário seu, que selecionou esse “sem-nada”.


Mas... quem é curioso é sempre curioso. E... não custava nada conversar com o dito cujo.


Uma semana depois, para surpresa do candidato que tinha até especialização, quem ficou com a vaga foi o terceiro candidato. Justamente aquele que não tinha currículo nenhum. Como ele soube? No Maranhão, as paredes não têm só ouvidos. Têm olhos também.


E, "pressionado" a explicar por que tinha selecionado o candidato sem currículo, descartando os outros com curso de graduação e especialização, Claudionor, com um sorvete de coco na mão direita:


– Já viu o Instagram dele? 


E, diante da negativa do seu interlocutor, meteu a língua no sorvete, de maneira a colher uma boa quantia. Depois, com um risinho de malandro, sentenciou:


– Ele tem mais de 20 mil seguidores.




PELO SIM, PELO NÃO....

  Dino de Alcântara  CONTO-ANEDOTA   Não se sabe com precisão como no Maranhão as clínicas de depilação (sim... até nas partes íntimas) ...