segunda-feira, 14 de julho de 2025

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

           Dino de Alcântara 

          

                                      MicroCONTO (ou será miniconto?)



Há tempos o gerente da loja New Arpazo, da Rua Grande, tinha certeza de uma coisa: funcionário precisa ter qualificação. Sem isso, nem para limpeza da loja, ele queria. 

Assim, quando o vendedor Fernando lhe comunicou que estava saindo da empresa para uma outra, no Shopping São Luís, mas perto de sua casa, ele (o gerente) não pensou duas vezes: Fazer um anúncio nas redes sociais da loja para contratar um outro funcionário. E, lógico, queria com boa qualificação. Não ia botar dentro da loja que ele gerenciava um capiau que nem sabia a diferença entre um cinto de marca e um que se comprava no camelô.


Loja New Arpazo - imagem gerada com auxílio de IA

Anúncio feito, apareceram dezenas de candidatos com seus currículos. Um vendedor, conhecedor de RH, porque já havia trabalhado na C-Rolim, selecionou três, mas sem observar os currículos. Selecionou com base em “poder de expressão, dinâmicas e conhecimentos que os candidatos tinham de vendas. A palavra final devia ser dada por seu Claudionor (esse era o nome do gerente).



Claudionor analisando os currículos - imagem gerada com auxílio de IA

De posse dos três currículos, o gestor da loja viu que dois deles tinham cursos de graduação e um até de especialização. O terceiro... nada. Nenhum curso – nem de graduação, nem os chamados cursos técnicos... E fazer o quê?


Após entrevistar o primeiro candidato e, em seguida, o segundo... Ficou na dúvida. Os dois eram muito bons. E o terceiro... bom. Nem era para entrevistar. Currículo zerado! Ia dar cartão vermelho na hora. Poderia até dar um conselho ou um baile de esculhambação... no candidato e no funcionário seu, que selecionou esse “sem-nada”.


Mas... quem é curioso é sempre curioso. E... não custava nada conversar com o dito cujo.


Uma semana depois, para surpresa do candidato que tinha até especialização, quem ficou com a vaga foi o terceiro candidato. Justamente aquele que não tinha currículo nenhum. Como ele soube? No Maranhão, as paredes não têm só ouvidos. Têm olhos também.


E, "pressionado" a explicar por que tinha selecionado o candidato sem currículo, descartando os outros com curso de graduação e especialização, Claudionor, com um sorvete de coco na mão direita:


– Já viu o Instagram dele? 


E, diante da negativa do seu interlocutor, meteu a língua no sorvete, de maneira a colher uma boa quantia. Depois, com um risinho de malandro, sentenciou:


– Ele tem mais de 20 mil seguidores.




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