segunda-feira, 25 de novembro de 2024

CHAMADA NA SALA DE AULA

 

Dino de Alcântara

Teatrinho a Vapor

 

À Francimary, que me narrou esta história.

 


 

FRANCIMARY – Professora de Letras. Está em Zé Doca para ministrar, num Programa de Formação de Professores, a disciplina Introdução à Pesquisa. Pretende dar destaque, como é do seu costume, à pesquisa de autores da Literatura Maranhense.

LINDINALVA – Aluna de Letras.

RAIMUNDINHO – Aluno de Letras.

 

Cenário: Sala de Aula do Curso de Letras do Parfor, na cidade de Zé Doca.

A cena passa-se em 2024.

 

PRÓLOGO: Francimary, após se apresentar, ligar o Datashow e o Notebook para iniciar as aulas, pega o tablet Samsung e inicia uma pequena dinâmica.

FRANCIMARY – Gostaria de perguntar se vocês conhecem estas pessoas. (Lendo, como se fizesse uma chamada.) Maria Firmina dos Reis, Trajano Galvão de Carvalho, Aluísio Azevedo, Coelho Neto, Humberto de Campos, Viriato Corrêa, Josué...

RAIMUNDINHO (Que interrompe a professora.) – Senhora, eles não são daqui não....

LINDINALVA – É... professora... Não são desta sala.

RAIMUNDINHO – Acho que são alunos da Turma de Espanhol. Essa aqui é de Inglês.

 

(A SG – Serviços Gerais – que trazia um cafezinho para a professora percebeu os olhos esbulhados da docente, como se ela tivesse visto uma curacanga na sala.)

 

 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

PENA DE PASSARINHO

  Dino de Alcântara

 Teatrinho a Vapor



O PASSARINHO
A PASSARINHA
O DIABINHO DE UM MOLEQUE

Cenário: Galho de uma ingazeira e de um jutaizeiro (jabobazeiro).

A cena passa-se nas matas do Cujupe.


Prólogo: Estão um passarinho e uma passarinha num galho de ingazeira. Ele todo inclinado para copular com ela, pois sabe que está no tempo do acasalamento. Ela ainda está se decidindo quem fecundará os seus ovinhos. Quando, de repente, aparece um diabinho em forma de menino e atira uma pedra certeira. Pega bem nas costas do passarinho. Ela se espanta e voa, pousando num galho de um jutaizeiro, mais alto. Ele tomba, perde meia dúzia de penas, mas consegue recuperar o voo e pousa ao lado dela.


O PASSARINHO (Chegando-se para ela, já com terceiras intenções.) – Tu ficou com pena, não foi?

A   PASSARINHA (Rindo, como se a situação fosse cômica.) – Claro! Não perdi nenhuma. Agora tu... quase fica pelado!








segunda-feira, 11 de novembro de 2024

A ALMA DO NEGÓCIO

 Dino de Alcântara

 Teatrinho a Vapor

 

MABÍLIA – Representante comercial da Herbalife. Anda com uma camisa da empresa com uma frase que chama a atenção por onde passa. Tem uma característica que a distingue de outros vendedores: pesa 155 quilos.

CLIENTES DO BANCO

 

Cenário: Agência do Banco Itaú – Renascença.

 

A cena passa-se em novembro de 2004.

 

PRÓLOGO: Mabília tenta entrar no banco. A porta trava. Ela precisa tirar vários itens da bolsa. Trava novamente. Tira mais itens. Até a bolsinha de moedas. O celular, as chaves, tudo. A porta, com a ajuda do guarda, destrava. Ela fica quase entalada. Mas, com esforço, consegue entrar. Todos os clientes e funcionários a observam.

MABÍLIA (Entrando na fila para ser atendida no caixa normal.) – Boa tarde!

ALGUNS CLIENTES – Boa tarde.

(Só aí, com espanto nos olhos, os clientes e os funcionários conseguem ler o que está escrito na blusa da representante da Herbalife. Um risinho malicioso parece contagiar os lábios dos clientes e dos bancários, indo até o gerente.)

Se você quiser emagrecer, fale comigo.

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O MACACO ROUBADO

 

Dino de Alcântara

Essa história correu de boca em boca. Parecia até fuxico encomendado. Ouvi de Muringa, que disse ter ouvido de Zé Mole, que disse ter ouvido de Bonsó, que disse ter ouvido de Pato Cagado, que não contou de quem ouvira. Então fique o leitor sabendo que pode ter sido diferente do que vai ser contado.  

Diz-que um caboco do Cujupe, dono de um caminhão, já bastante surrado nas estradas de Alcântara, que, aliás, não estão entre as melhores do Maranhão, mas isso é outra história, que não cabe aqui, foi vítima de um roubo infame. Numa manhã, que sucedeu a uma festa na casa de Bertoldo, com muito reggae e cerveja, além do famoso conhaque São João da Barra, com o já citado Pato Cagado bêbado de não se aguentar em pé, fora usurpado... O caminhão do dito caboco amanheceu sem uma peça obrigatória: o macaco. 

Sim. Fora esbulhado. E quem havia roubado era quem estava na festa. Sim. Na certa. Agora era hora de tratar de descobrir quem havia feito um diabo desse. E quem sabe meter uma faca no bucho!

Ficara tão brabo o Mané Preá (esse era o nome do dono do Caminhão), que não queria comprar outro macaco, mesmo Lafantico tendo lhe oferecido um por 80 reais. Não. Queria era aquele. Ia pegar o macaco e depois meter a faca no ladrão. 

Para isso, ouvindo um conselho da boca de Jirijó, procurou um curador lá para as bandas do São Raimundo. Sim, senhor. Pagaria até 300 reais para o homem, desde que ele dissesse onde estava o macaco. Ia lá, pegava o objeto e sangrava o salafrário.

Agora, ali diante do curador, um homem velho, já na casa dos 70 anos, com um bigode ralo, rosto franzino, estava ansioso para descobrir quem era o canalha. Antes de sangrar o homem, ia dar uns bogues bem dados, até quebrar a cara toda dele.

O curador, depois de receber cinquenta reais, pediu licença e foi até outro quarto, segundo ele, para falar com os encantados.

O caboco ficou esperando bem uns vinte, trinta minutos. Até que o homem voltou. Veio com rosto diferente, parecendo que havia tomado uns grodes de cachaça Pitú. Olhos vermelhos de dá medo, no dizer de Tralhoto.

– Siô, já se sabe quem roubou o macaco.

– Pois, então me conte logo, que quero ir lá agora, pegar o bicho e sangrar o ladrão.

– Não vai dar.

– Por quê?

– Quem roubou não está mais aqui perto.

– E por onde tá?

– De Bequimão pra lá.

– Mas me diga onde está, siô... onde está o macaco?

– O macaco não existe mais.

– Como assim, siô? O que aconteceu?

– Já foi comido no leite de coco!


 

 

PELO SIM, PELO NÃO....

  Dino de Alcântara  CONTO-ANEDOTA   Não se sabe com precisão como no Maranhão as clínicas de depilação (sim... até nas partes íntimas) ...