Dino de Alcântara
Essa história correu de boca em boca. Parecia até fuxico encomendado. Ouvi de Muringa, que disse ter ouvido de Zé Mole, que disse ter ouvido de Bonsó, que disse ter ouvido de Pato Cagado, que não contou de quem ouvira. Então fique o leitor sabendo que pode ter sido diferente do que vai ser contado.
Diz-que um caboco do Cujupe, dono de um caminhão, já bastante surrado nas estradas de Alcântara, que, aliás, não estão entre as melhores do Maranhão, mas isso é outra história, que não cabe aqui, foi vítima de um roubo infame. Numa manhã, que sucedeu a uma festa na casa de Bertoldo, com muito reggae e cerveja, além do famoso conhaque São João da Barra, com o já citado Pato Cagado bêbado de não se aguentar em pé, fora usurpado... O caminhão do dito caboco amanheceu sem uma peça obrigatória: o macaco.
Sim. Fora esbulhado. E quem havia roubado era quem estava na festa. Sim. Na certa. Agora era hora de tratar de descobrir quem havia feito um diabo desse. E quem sabe meter uma faca no bucho!
Ficara tão brabo o Mané Preá (esse era o nome do dono do Caminhão), que não queria comprar outro macaco, mesmo Lafantico tendo lhe oferecido um por 80 reais. Não. Queria era aquele. Ia pegar o macaco e depois meter a faca no ladrão.
Agora, ali diante do curador, um homem velho, já na casa dos 70 anos, com um bigode ralo, rosto franzino, estava ansioso para descobrir quem era o canalha. Antes de sangrar o homem, ia dar uns bogues bem dados, até quebrar a cara toda dele.
O curador, depois de receber cinquenta reais, pediu licença e foi até outro quarto, segundo ele, para falar com os encantados.
O caboco ficou esperando bem uns vinte, trinta minutos. Até que o homem voltou. Veio com rosto diferente, parecendo que havia tomado uns grodes de cachaça Pitú. Olhos vermelhos de dá medo, no dizer de Tralhoto.
– Siô, já se sabe quem roubou o macaco.
– Pois, então me conte logo, que quero ir lá agora, pegar o bicho e sangrar o ladrão.
– Não vai dar.
– Por quê?
– Quem roubou não está mais aqui perto.
– E por onde tá?
– De Bequimão pra lá.
– Mas me diga onde está, siô... onde está o macaco?
– O macaco não existe mais.
– Como assim, siô? O que aconteceu?
– Já foi comido no leite de coco!
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