segunda-feira, 25 de março de 2024

Teatrinho a Vapor A SAÍDA DO MOTEL

  Dino de Alcântara

 

Imagem criada pela I.A., que não entendeu as orientações dadas pelo autor, imaginando se tratar de uma situação diferente. Ora... quem sai a  pé de um motel hoje? Mas... a cavalo dado, não se olha o rabo, digo os dentes... Vai assim mesmo.

 

ELA – Esposa, professora, amante do prazer.

ELE – Esposo, professor, amante do prazer.

(?) – Desconhecido.

 

Cena 1:

Saída do Motel Studio A, Areinha, São Luís.

Há uma placa na qual está escrito: “Aqui é o seu ninho do amor e do prazer!”

 

ELA – Amor, olha aquela placa.

ELE – E ainda tem dois gatos se engalfinhando. Gostei.

Ela, no volante, perde o controle e bate na placa, jogando-a no chão.

ELA – Vamos sair logo, porque podem querer nos cobrar.

Saem

 

CENA 2:

20 dias depois...

Saída do Motel Studio A, Areinha, São Luís.

(?) – Amor, olha aquela placa no chão!

(?) – É um negócio de ninho não sei de que! Não deu pra ler tudo...

 

CENA 3:

7 dias depois...

Bar o Bilontra, Litorânea.

Dois casais tomam uma cerveja.

Conversa animada em que ELE narra as peripécias da mulher no volante ao casal amigo, sem esquecer de contar a batida na placa do Motel Studio A, jogando-a no chão e saindo de fininho. Todos riem

 

ELAOlhando para o esposo, num rasgo de sinceridade... E tu acredita, amor, que, quase um mês depois, aquela placa ainda está no chão?

ELE – ??? 



 

segunda-feira, 18 de março de 2024

O CEGO

 

 Dino de Alcântara

 

Era para ser um daqueles passeios com requintes de prazer, em que se guarda na memória, mas, ao se arrumar, o Lulu (como era conhecido o Luís Torres na cidade de São Luís) ouviu a esposa, dona Odete, que não era nenhuma ninfa dos poemas de Gonçalves Dias, gritar da sala que também queria ir à Rua Grande.

Morador do Largo do Desterro, num sobrado bem cuidado e arejado, o marido tinha as suas saidinhas toda sexta de tarde, em que passava a gerência do comércio na Rua da Estrela ao seu fiel empregado, o Fabrício.

Havia mandado um bilhete por um moleque naquela manhã de sexta de 1925 à sua amante, que morava numa porta-e-janela na Rua do Norte. Agora esse impasse. Vai ou não vai.

Acabou indo.

Pegaram – o marido e a mulher – um carro e mandaram o cocheiro os deixar no Largo do Carmo. O marido, com a cara inchada, por ter perdido o desfrute daquela semana. Agora, oh cacete! Só na outra semana, se der!

Ao descerem do carro, o Lulu e dona Odete caminham em direção à Rua Grande. Ao passar em frente ao Armarinho do Gondinho, um cego, sentado num mocho na calçada, os aborda, estendendo uma cuia, com algumas poucas moedas dentro.

 — Oh, minha linda senhora, dê uma esmolinha para um cego! Deus há de lhe pagar em dobro!

 Dona Odete estanca o passo, olha para o cego, depois para o marido e lhe diz:

— Lulu, se soubesse que esse cego era cego mesmo, eu daria uma boa esmola para ele. Mas, nesta terra, nunca se sabe quem está mentindo...

Lulu, com um risinho sarcástico no canto da boca:

— Pequena, se é isso que tu quer saber, pode dar a esmola, que ele é cego mesmo!

— E como tu tem tanta certeza disso?

— Ora, pois ele não te chamou de uma linda mulher!

 

segunda-feira, 11 de março de 2024

O NERD DA ILHINHA

 DINO DE ALCÂNTARA

 

 

     Aula de Língua Espanhola na Turma 103 do Centro de Ensino Médio Roseana Sarney, no bairro da Ilhinha ou, para muitos, no São Francisco.

A Professora Maria do Carmo, formada em Letras-Espanhol na Universidade Federal do Maranhão, explicava aos seus alunos algumas formas verbais da língua de Cervantes, pondo no quadro branco:

Ruan fue encantado por la belleza de Madrid.

Marcou o verbo, para explicar a relação dele entre o adjetivo e o sujeito.

Estavam nessa explicação, quando o aluno Jeanderley, morador da Ilhinha, questionou não a explicação da docente sobre o verbo, mas o léxico empregado na frase.

– Tá errado, professora.

A professora, que odiava quando errava alguma frase, porque ela tirava ponto da prova dos alunos, quando estes cometiam algum deslize. Certa vez, ela chegou a dá 6,5, e não 7,0, porque o menino não escreveu correto a palavra escola, colocando escoela. Tomou uma decisão drástica: apagou tudo e reescreveu toda a frase. Olhou cuidadosamente e viu que não havia nada de errado. Mas o nerd da Ilhinha continuou com sua voracidade de julgar, como se fosse Sotero dos Reis no Liceu Maranhense nos idos do Século XIX.

– Tá errado, Senhora.

– O que está errado?

– A palavra Madrid.

Ela examinou bem. Deus do céu, será que é sem o D?! Estou louca! Não... É com D sim.

– Está certa!

– Não está, não.

Ela, já aborrecida, perguntou como era, até porque a turma já estava num barulho só, talvez louca para que a mestra se convencesse de que estava errada.

– O que está errado? Me diz...

– Não é Madrid, senhora. É Real Madrid!

     



 


segunda-feira, 4 de março de 2024

O X DA QUESTÃO... OU SERIA COM SS?

 Dino de Alcântara

 


– Oi, mãe. Faz um pix pra mim. 30 reais.

E, em três minutos, o valor acima muda de conta bancária. 

* * *

Se perguntarmos, hoje em dia, a alguns estudantes do Ensino Médio o que é cheque, é capaz muitos não saberem. A evolução da tecnologia fez enterrar uma série de tarefas que tínhamos de fazer ou aprender a fazer o mais rápido possível. Por exemplo: quando se estava falando num orelhão, precisávamos saber o exato momento de colocar outra ficha. Caso contrário, a ligação era interrompida.

E o que dizer dos preenchimentos dos cheques? Quem trabalhava em lojas, escritórios, etc. precisava saber direitinho. 

* * * 

Dona Josefa, secretária de um conhecido empresário do Piauí que para o Maranhão se mudou, tornando-se um rico comerciante de automóveis da Chevrolet (dizem que era o Noronha, mas não se tem certeza), foi chamado certa vez à sala do patrão.

Ao entrar na sala, recebeu a incumbência de preencher um cheque de 60 mil cruzeiros para um comerciante da praça.

Ao preencher, no entanto, dona Jofefa empacou com o nome por extenso do numeral, isto é, não sabia como se escrevia, se com Ç ou com SS. E, como chamavam o patrão de doutor, certamente ele sabia perfeitamente como se escrevia essa bendita palavra.

Na mesma hora, os neurônios do empresário piauiense atuaram mais rápido que um pistoleiro do velho Oeste.

– Dona Josefa, faz dois cheques de 30.     

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

              Dino de Alcântara                                                    Micro CONTO (ou será miniconto?) Há tempos o gerente da...