Dino de Alcântara
Maricélia, depois que aceitou, nas palavras dela, Jesus como seu único e verdadeiro senhor, mudou completamente algumas atitudes e, claro, alguns discursos. Passou a ler menos obras linguísticas e mais textos da Bíblia. Viu menos televisão e assistiu mais a vídeos sobre a fé. E assim foi construindo a sua nova vida.
Um dia ouviu, num grupo de WhatsApp dos professores, um colega falando sobre o que seria pecado: se o que se come ou o que se fala... O docente criticava a ideia de que comer carne na Semana Santa ou peixe de couro seja pecado... E disse ainda: “O pior é que o dizemos...”
Ela, não acreditando, buscou a palavra verdadeira: a Bíblia. Foi até a Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 14:
14 1 Aceitem entre vocês aquela pessoa que é fraca na fé, mas não com a intenção de discutir sobre as diferentes opiniões dela. 2 Uma pessoa acredita que pode comer todo tipo de comida, mas outra pessoa, cuja fé é fraca, acredita que só pode comer legumes. 3 Aquele que come todo o tipo de comida não deve se sentir superior ao que come somente legumes. E aquele que come somente legumes não deve condenar ao que come todo o tipo de comida, pois Deus o aceitou.
Avançou um pouco e leu o versículo 17:
O Reino de Deus não é questão de comida ou bebida; é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Depois, passou a buscar os ensinamentos de Jesus. Procurou horas e horas nos Evangelhos, até que encontrou estes dois versículos de Mateus, capítulo 15:
10 Jesus chamou para junto de si a multidão e disse: "Ouçam e entendam. 11 O que entra pela boca não torna o homem ‘impuro’; mas o que sai de sua boca, isto o torna ‘impuro’".
Maricélia ficou perplexa... Como aquele sujeitinho, que era metido a comunista, sabia de tudo isso? Por acaso, lia a Bíblia?
Sete dias depois, na casa da irmã, onde precisou almoçar, por conta de uma reunião da faculdade, recusou prontamente o prato principal: gurijuba ao mocho de camarão. Justificativa: não comia peixe de couro. A empregada precisou fritar rapidamente um peito de frango.
À noite do mesmo dia, já deitada no sofá de sua casa, passou a vista nas mensagens da família. Um vídeo lhe chamou a atenção: mostrava como muita gente estava invadindo as casas alagadas no Rio Grande do Sul para furtar o pouco que não havia sido destruído pelas águas. De pronto, não resistiu. Respondeu logo, dizendo que eram os filhos de Lula, petistas, que estavam roubando tudo por lá. E ainda botou a figurinha do Lula:
Ninguém no grupo quis responder, porque já a conheciam muito bem e sabiam que o melhor a fazer era o silêncio.
Na madrugada da mesma noite, teve um pesadelo. Saíam de sua boca um monte de vermes – de todos os tipos... Acordou atordoada. Tomou água, foi ao banheiro, voltou a dormir.
No dia seguinte, na faculdade, antes de começar sua aula, ouviu de uma aluna uma justificativa por não ter vindo fazer as provas: havia sido assaltada. Estava sem o cartão de transporte. A docente, sem temer dizer um desatino, soltou uma frase quase que instantânea: Faz o ELE! E riu à solta.
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