segunda-feira, 13 de maio de 2024

AMOR PLATÔNICO

 

 Dino de Alcântara

Teatrinho a Vapor

 

Zé Caranguejo com Curau (à esquerda) e Zé Baiacu (de camisa branca) tomando uns grodes.


ZÉ CARANGUEJO – Estivador do Cais da Sagração, homem forte, solteiro, mesmo já tendo seus 40 anos bem vividos, no porto, nos barcos, nas alvarengas, nos botequins do Desterro e da Madre Deus, na zona, etc. 

ZÉ BAIACU – Pequeno comerciante da Madre Deus, que adorava uma conversa com os fregueses.

CURAU – Estivador, como Zé Caranguejo, bebedor de cachaça, vinho, jurubeba e mais o que aparecesse.

 Cenário: Quitanda de Zé Baiacu na Madre Deus.

A cena passa-se em 1968.

 

ZÉ CARANGUEJO (Levando o copo de jurubeba com gosto à boca.) – Uma hora dessa, em vez de estar aqui com esse chifrudo (aponta para Curau.), era para estar com minha morena.

CURAU (Curioso.) – Que morena, doido?

ZÉ CARANGUEJO – Então não conhece a Helena, filha do Coronel Vieira?

ZÉ BAIACU – Helena? Que história é essa, Zé Caranguejo?

ZÉ CARANGUEJO – Sim, pois digo... Era pra me casar com ela, se a família toda não tivesse sido contra?

CURAU – Pera aí... Tu ia casar com ela, com aquela belezura?

ZÉ CARANGUEJO – Tô te falando.

ZÉ BAIACU – Essa é boa! Nunca soube disso.

ZÉ CARANGUEJO – É porque eu não gosto de contar.

ZÉ BAIACU – Mas me diz uma coisa...

ZÉ CARANGUEJO – Até duas...

ZÉ BAIACU – E ela? O que disse?

ZÉ CARANGUEJO – Ela? Ela sempre foi contra.

ZÉ BAIACU – Contra o quê?

ZÉ CARANGUEJO – Contra o nosso casamento.

ZÉ BAIACU – Mas tu não disse que a família toda é que era contra?

ZÉ CARANGUEJO – Eu disse que a família toda era contra, e ela também, pois não é da família, seus leprosos?...

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

              Dino de Alcântara                                                    Micro CONTO (ou será miniconto?) Há tempos o gerente da...