Teatrinho a Vapor
Dino de Alcântara
SABINO – Condutor de bondes da Ullen. É casado com Lurdinha, filha do seu Manduca.
MANDUCA – Sargento reformado da Polícia Militar, sogro de Sabino.
Cenário: Sala da casa de Manduca.
A cena passa-se em 1928.
SABINO (Com ar bastante tenso, falando baixo para ninguém ouvir.) – Sabe, seu Manduca, a vida lá em casa está um inferno. Daqui a pouco, eu não consigo entrar mais em casa, que os chavelhos estão batendo na coberta.
MANDUCA – (Com a calma que a situação lhe impunha.) – Tem paciência, meu filho. Com o tempo tudo isso passa.
SABINO – Passa como, seu Manduca? A Lurdinha tem me botado chavelho até com Jonoro, o vendedor de carvão. Raimunda Cavala diz que viu, outro dia, Mané Prosa no maior chamego dentro da rede com ela...
MANDUCA – Até com Mané Prosa?
SABINO (Como quem confirma.) – Não num foi... Daqui a pouco até Babá tá dizendo que pega ela também...
MANDUCA – Olha.... Ela saiu igualzinha à mãe. Hoje, tu olha a patroa aqui em casa, diz que é um modelo de esposa, coisa e tal... mas aquilo já foi velhaca que só. Mas eu dei tempo ao tempo. A beleza dela foi se esvaindo até chegar ao que é hoje: uma matrona. E que boa companheira eu não ganhei.
SABINO – Mas, seu Manduca...
MANDUCA – Dê tempo ao tempo! Um dia a Lurdinha vai ser só tua e de mais ninguém! E aí, meu rapaz, tu vais ter uma esposa de verdade!
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