segunda-feira, 28 de outubro de 2024

LEITE NA BOQUINHA

  Dino de Alcântara


É capaz de Neres pular nesse texto pensando se tratar de um algum miniconto estilo Airton Souza ou Bioque Mesito. Nada. Passará longe. Trata-se de um quase defunto, que, felizmente não foi dessa que foi carregado para o Cajueirinho do Cujupe.

Vamos ao fato e deixemos a vida de Bioque com seus poemas e Airton Souza com seus garimpeiros em Serra Pelada fazendo saliência...

Aconteceu em meados dos anos 70 ou 80... Agora não me lembro, porque me contaram, e eu não gravei... coisas da idade.

Diz-que que um caboco de nome Moscote estava numa fraqueza que só. Nem se levantava mais da rede. O penico já ficava ali perto, porque não conseguia ir até o quintal aliviar a bexiga. Deram de tudo para ele, até chá de cana-da-índia, e o homem não melhorava. Foi aí que Zé Preá veio com a solução, que tinha botado Benedito Rato bonzinho de uma maleita braba. Era tomar leite materno. Era tiro e queda.

Boca de Sapo foi o encarregado de ir atrás. Achou a comadre Tereza, com os peitos, que a natureza lhe dera, capaz de fazer qualquer mulher dos Estados Unidos morrer de inveja.

Comadre Tereza chegou. Moscote só aí foi saber do que se tratava. Abriu bem os olhos para mirar direito. 

Trouxeram uma colher daquelas de mexer canjica. Comadre Tereza arriou a alça do vestido, tirou o corpete e botou o seio esquerdo para fora. Até Cento-e-Trinta que estava perto do jirau veio para perto... para espiar.

A cada puxada, o leite espirrava longe. Via-se que a comadre não tinha muita prática. Nunca havia doado leite dessa forma. Uma gota caía dentro da colher e o restante fora. Até dentro do olho de Moscote chegou a cair.

Moscote passou a mão no olho, mirou bem no peito da comadre e soltou esta frase, que entrou para os anais histórico-anedotários de Alcântara:

– Assim num vai... eu morro e num bebo nadinha. Não é melhor botar direto na boca, como se faz com criança?

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O QUE NÃO MATA...

 

Dino de Alcântara

Teatrinho a Vapor

Dona Márcia, paciente. Preparada para fazer a a cirurgia bariátrica. Imagem gerada pela IA.

 

GILCILENE – Técnica em enfermagem do Cujupe. Está há dois dias trabalhando numa clínica de São Luís que faz, entre outras cirurgias, a bariátrica. Está em fase de experiência, porque faz três meses que terminara o curso técnico. Tem um defeito, como poucos moradores da terrinha: tem uma língua grande. Como se sabe, trata-se de uma exceção.

DONA MÁRCIA – Paciente para a cirurgia bariátrica. Pesa 175 quilos, mas já chegou a pesar 210. Tem alguns problemas, entre eles, uma ansiedade crônica. Tem muito medo de morrer. 

 

Cenário: Centro pré-cirúrgico da clínica....

Cena: Preparada para a cirurgia, descobriu-se que a paciente estava com pressão muito alta. Então o médico mandou que a técnica desse um comprimido para pressão. Mas, ao entregar o remédio para a paciente tomar, Gilcilene bate no cotovelo de Dona Márcia, deixando cair a pílula no chão.

 

GILCILENE – Oh, Meu Deus! Tô lerda hoje!

DONA MÁRCIA – Desculpa! Eu é que tô nervosa. 

GILCILENE (Juntando o comprimido e dando-o à paciente.) – Dona Márcia, tome a pílula assim mesmo. (E, num rasgo de sinceridade!) O que não mata, engorda!

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

UM TREM NA ACADEMIA

 Dino de Alcântara

Era a Semana da Pátria, como dizíamos antigamente – acho que hoje ainda se diz, sei lá –, mas nem estava preocupado porque o feriado cairia no sábado. Então na sexta, dia 6, entrei na academia, não a de Zé Sarney, mas a de atividades físicas. Precisava gastar algumas calorias e nada melhor do que correr numa esteira.

Assim, liguei a esteira 7 e comecei a caminhar, antes de correr. Bem na frente, um aparelho de tevê. Liguei, botei num canal. Estava passando um documentário sobre a Greve de 51 no Maranhão. Acho que era TV Assembleia. 

Nesse momento, entrou um cidadão (acho que não era de bem, talvez era) com a camisa da seleção, mas estava com o número 22. Não me lembrei de nenhum jogador com o número 22. Seria Neymar ou Romário? Deixei pra lá. Não. Minto. Não deixei. Prestei mais a atenção no sujeito da esteira ao lado, a 6. Esqueci de dizer que ele estava na esteira 6. O celular dele tinha a bandeira do Brasil como capa. Sim. Era um eleitor da direita.

 Ele, antes de acionar a máquina para caminhar, conectou o celular na tevê. Eu pensei. Vai botar o discurso do Bozo para assistir. Eu vou dar um soco nesse cara aqui mesmo.

Botou o Bozo falando para a multidão.

Aí parei a esteira. Desci e tirei o cabra da esteira. Como ele veio para cima de mim, dando um soco, eu me abaixei e meti uma cabeçada nele, jogando-o no chão.

(...)

Na verdade, essa cena não aconteceu. Aconteceu, mas foi só na minha mente.

Voltando ao cidadão (de bem ou do mal), ele conseguiu conectar o celular, e eu fiquei aguardando para saber o que era que ele queria. Bom... Aparência de 30, 40 anos. Será que vai botar um rock para ouvir? Ou Gusttavo Lima?

Nessa hora, nem ouvia o que Wagner Cabral dizia sobre a Greve de 51. Só me interessava o que meu companheiro de academia ia assistir.

A imagem da tevê se conectou e apareceu que era o YouTube. Aguardei mais um pouco.

E surpresa...

Eu quis saber da minha estrela guia

Onde andaria meu sonho encantado

Fada-madrinha, vara de condão

Esse meu coração sonhando acordado

Vai nos levar pro mundo de magia

Onde a fantasia vai entrar na dança

E quando o brilho do amor chegar

Quero é mais brincar, melhor é ser criança

Uni, duni, duni, tê

Oh, oh, oh, oh, oh, oh

Salamê minguê

Oh, oh, oh, oh, oh, oh

Sorvete colorê

Sonho encantado, onde está você?

 

Era um fã do Trem da Alegria


 

 

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

              Dino de Alcântara                                                    Micro CONTO (ou será miniconto?) Há tempos o gerente da...