segunda-feira, 22 de julho de 2024

UMA HOMENAGEM COM H MAIÚSCULO

 Dino de Alcântara

 


Sentado na cadeira presidencial do Palácio do Planalto havia mais de dois anos, Zé Sarney decidiu que era o momento propício para retribuir a alguns homens de sua terra natal a grande contribuição que lhe deram ao longo de sua caminhada, desde a sua vitoriosa eleição em 65 até o momento em que se encontrava – comandando os rumos desse gigante chamado Brasil.

Foi assim que chamou o seu chefe de gabinete e lhe orientou o seguinte: falar com o ministro da Educação e lhe pedir que construísse uma obra no município maranhense de... (o nome não será mencionado porque, segundo dizem as más línguas da Baixada Maranhense, continua em segredo de justiça) cujo prefeito tinha sido (e era ainda) um grande correligionário seu, ajudando, e muito, na corrida ao Palácio dos Leões.

De ordens em ordens, chegou ao Delegado do MEC no Maranhão, que falou diretamente com o governador Cafeteira, que deu ordens expressas para que fizessem uma boa escola no município, coisa de primeiro mundo.

Parece – mas não se pode provar – que foi do próprio delegado do MEC a ideia: como o nome do prefeito homenageado era Hegino, se faria uma escola em formato de H, para eternizar o nome daquele que tinha dado um grande auxílio ao ilustre pinheirense.

A obra foi executada, como pediu o delegado, sem que o prefeito soubesse dos detalhes da planta. Só deveria saber no dia da inauguração, pois tratava-se de uma surpresa e surpresa não se conta antes.

Tudo foi feito conforme determinação do delegado. Os recursos vieram diretamente do Ministério da Educação, sendo executadas pelo governo do Estado do Maranhão.

No dia da inauguração, Sarney não pôde, como era de esperar, comparecer, mas, representando o grande chefe da nação estava ele, o delegado do ministério, além do secretário de Educação do Estado do Maranhão, deputados, autoridades locais e estaduais, etc.

Conhecendo finalmente a obra, com todos os seus detalhes, o prefeito ficou visivelmente emocionado, quando a autoridade da Educação lhe disse que seria sua, não do Governo Federal, a linda escola. A primeira-dama não cabia em si. Era uma grande homenagem do presidente, que sabia reconhecer os homens de valor de sua terra.

Chamado a discursar, o Delegado do MEC disse que fizeram a escola em formato de H, como podiam reparar, para eternizar o nome do grande político no colégio. Assim, o H de Hegino se confundiria com o H de honra, de honradez, etc.

Ao que o prefeito, com cara de espanto, tentou falar ao ouvido do orador, que não lhe ouviu nada, pois continuou falando.

Duas, três vezes, o prefeito tentou explicar algo ao orador, mas ele parecia em êxtase no discurso, não lhe ouvindo nada.

Até que o prefeito falou bem alto:

– Doutor, eu me chamo Egino. É com E. Não tem H, siô.

Pálido, parecendo não acreditar naquilo, o delegado ficou pensando. Como um cidadão desse se chama Egino e não Hegino. Quem foi o cabra que fez um diabo desse, registrando-o sem o H? Ora essa.... Agora será com H. Não tem jeito.

Depois de uma parada para um bom gole d’água, pegou o microfone e desferiu:

  – A escola tá em forma de H, H de homem, porque aqui se tem um homem com H maiúsculo, um grande homem.

As palmas estrondaram junto aos gritos de vivas ao prefeito.

Com um risinho tímido, o prefeito Egino, 1,48 de altura, já contando com o salto do seu 752 da Vulcabrás, também bateu palmas...


 

 

 

segunda-feira, 15 de julho de 2024

O AZARADO

 Dino de Alcântara

 Teatrinho a Vapor

 


Imagem criada pela I.A.

 

JONAS – Professor de Língua Portuguesa na Rede Municipal de São Luís. É considerado sem nenhuma sorte na  cidade. Sonha ter uma namorada, seja bonita ou feia, desde que seja só sua. Não frequenta cabaré.

MANÉ PROSA – Funcionário público. Sortudo, na visão dele próprio. Costuma frequentar os cabarés da cidade.

LABICHO – Estudante, já em tempos de trabalhar, mas, por conta de uma mesada dos pais, moradores de Alcântara, ainda vive metendo os beijos nos copos de cerveja nos bares de São Luís.

 

Cenário: Bar Antigamente. Praia Grande.

A cena passa-se em 2007.

 

JONAS (Entrando no bar e sentando-se junto à mesa.) – Boa noite, meus amigos. Pensei que não os encontraria por aqui hoje!

MANÉ PROSA (Após pedir um copo ao garçom.) – Oh, professor, sente-se aqui conosco e tome uma Antarctica.

LABICHO – Como vai, professor?

JONAS – Rapaz, para variar, estou numa maré de azar danada. Estou até com medo de passar embaixo de urubu.

MANÉ PROSA (Contendo um risinho.) – E com as moças? Nada ainda, professor?

JONAS – Nada!

LABICHO (Vendo que ele tinha entre o material um livro de Ari Toledo.) – Está lendo Ari Toledo agora, mestre?

JONAS – Pois é... Para ver se tenho assunto com as moças...

MANÉ PROSA – E tem adiantado?

JONAS – Que nada... Quer dizer... Tive foi um pesadelo, depois de ler esse livro ontem.

LABICHO – Pesadelo?!

JONAS – Sonhei que eu estava numa praia deserta com três mulheres...

LABICHO – Mas isso não é pesadelo! É sonho maravilhoso!

JONAS – No sonho, estavam a Rita Cadillac,  a Xuxa, e a Thais Araújo... todas nuas, e eu lá...

MANÉ PROSA – Mas não entendo por que foi pesadelo!

JONAS – Porque não era eu, entenderam?

MANÉ PROSA – Não.

LABICHO – Também não.

JONAS – Não era eu aqui que estava lá, quer dizer era...

MANÉ PROSA – Isso está meio doido...

JONAS – É que eu era o Clodovil, compreendem?

 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

A VIZINHA NINFÔMANA

 Dino de Alcântara

 Teatrinho a Vapor

 

Imagem gerada pela I.A.
 

PATRÍCIA – Uma vizinha muito atraente no prédio em que mora com a mãe cadeirante.

RICARDO – Vizinho de Patrícia. Tem desejos quase que incontroláveis por ela. Mora com os pais no 401, mesmo andar em que ela mora.

 

Cenário: Porta do apartamento de Ricardo no Novo Tempo II, Cohafuma.

A cena passa-se em 2021.

 

PATRÍCIA (Após bater suavemente a porta do vizinho.) – Oh, Rircado!

RICARDO (Atraído pela beleza da vizinha.) – E aí?

PATRÍCIA – Preciso de um favor teu.

RICARDO – É pra já.

PATRÍCIA (Com um risinho cínico na boca.) – Hoje eu estou naqueles dias... Sabe... Pandemia esse tempo todo. Sem poder sair... E hoje... Mamãe está bem. Já tomou os remédios e está dormindo... Está tudo tranquilo.

RICARDO – Sei... E a cuidadora? Já foi?

PATRÍCIA – Já... faz tempo. Hoje ela foi cedo.

RICARDO (Impaciente.) – E o que era?...

PATRÍCIA (Meio corada...) – Hoje a minha companheira tá que tá. Se não der hoje, acho que nem durmo...

RICARDO – A companheira é?... (E riu-se.).

PATRÍCIA – Então...

RICARDO – Diz... (Aproxima-se mais dela, fechando a porta atrás de si, com medo de que alguém ouvisse a conversa.)

PATRÍCIA – Estou até com vergonha.

RICARDO – Hum... Vergonha?! Não combina contigo. Diz... (Pega na mão dela.)

PATRÍCIA – Sabe o que é...

RICARDO – Vai...

PATRÍCIA – Eu queria...

RICARDO – O quê? Já está me deixando no ponto...

PATRÍCIA – Eu digo...

RICARDO – Vai...

PATRÍCIA – É que hoje eu quero sair... e para transar... entendeu?

RICARDO – Agora sim, entendi...

PATRÍCIA – Então...

RICARDO – Então... (A língua lubrificando os lábios.)

PATRÍCIA – Queria que tu ficasse com minha mãe, porque ela pode acordar e não ter ninguém em casa.

RICARDO (Assombrado.) – O quê?!

PATRÍCIA – Pois é... Enquanto eu saio... Queria saber se tu pode ficar com minha mãe.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

O EMBAIXADOR DE DAOMÉ NO MARANHÃO

 

 Dino de Alcântara

 

Teatrinho a Vapor


O EMBAIXADOR DE DAOMÉ – Homem de muitas esposas. Dizem que chegou a ter mais de 12 mulheres de uma só vez. Visitou o Maranhão em 1836.

O PRESIDENTE DA PROVÍNCIA – Governador do Maranhão.  Homem católico, mas respeitador das doutrinas divergentes do catolicismo. Alcantarense, era casado, dizem as más línguas do Maranhão, com uma mulher feia.

Cenário: Palácio do Governo do Maranhão.

A cena passa-se em 1836.

O Embaixador de Daomé, império de onde teria vindo uma parcela significativa de escravizados, visita o Maranhão, sendo recebido solenemente pelo presidente da Província, homem já nos seus cinquenta e poucos anos. A esposa do presidente participa da solenidade, mas logo se retira do salão nobre, deixando o embaixador com o chefe político e com muitos convidados.

 

O EMBAIXADOR DE DAOMÉ (Após reparar detidamente na primeira-dama.) – O senhor só tem uma esposa?

O PRESIDENTE DA PROVÍNCIA (Contendo o riso, mas reconhecendo o contexto da questão.) – Sim, sim. E olha que vale por dez!

O EMBAIXADOR DE DAOMÉ (Sem entender.) – Por dez?

O PRESIDENTE DA PROVÍNCIA É uma forma de dizer. É uma grande mulher.

O presidente explicou que, no seu país, as leis civis e religiosas impediam alguém de ter mais de uma mulher.

O EMBAIXADOR DE DAOMÉ (Puxando-o pelo braço para o fundo do salão.) – Mas, então... Por que não te livras dessa velhota e pega uma moçoila?

 

PELO SIM, PELO NÃO....

  Dino de Alcântara  CONTO-ANEDOTA   Não se sabe com precisão como no Maranhão as clínicas de depilação (sim... até nas partes íntimas) ...