segunda-feira, 24 de março de 2025

AULA DE ARTES ou ÓRGÃO LATINO

 Dino de Alcântara 

 

Teatrinho a Vapor 

 


PROFESSORA CREUZA – É professora de Artes numa escola municipal do Anjo da Guarda. Evangélica, solteira, sem parceiros sexuais, parece viver distante dos amores carnais.

ALUNOS – Crianças em idade de 11 e 12 anos.

 

Cenário: Escola Municipal Zé Sarney, localizada no Anjo da Guarda.

A cena passa-se em 2018.

 

PRÓLOGO: A professora Creuza, ao iniciar a aula da disciplina Artes no sexto ano da referida escola, tira de uma sacola grande uma porção de revistas de todos os tipos, incluindo a Veja. Ela tem trabalhado com desenhos. Os alunos devem ler alguma matéria ou tomar uma palavra ou ainda uma pessoa e desenhar. O que ela pretende é analisar, junto com os alunos, como eles enxergam os fatos e/ou pessoas. Na véspera, a professora de Geografia fora questionada por Lauren, uma aluna com idade cerebral acima dos outros, se os brasileiros eram latinos. Isso porque vira na televisão que Trump, eleito, iria tornar mais difícil a vida dos latinos nos EUA. Ela explicou que sim, eram latinos, porque os brasileiros e mexicanos vinham dos povos colonizados pelos latinos, isto é, romanos. Agora, com as revistas em cima da carteira, cada aluno devia pegar um fato, uma palavra ou pessoa para interpretar e desenhar, como via aquilo. Não se sabe como aconteceu aquilo – de Cauê, de 11 anos, buscar aquela maldita palavra.

 

PROFESSORA CREUZA (Sentada na cadeira junto à mesa, cobrava pressa dos alunos, já que o horário não demoraria bater.) – Cuidem, gente. Escolham logo o que vão desenhar, senão não vai dar tempo. Essa atividade valerá nota.

(Alguns poucos alunos folheavam as revistas. Outros já estavam desenhando.

CAUÊ – Professora, pode ser uma palavra?

PROFESSORA CREUZA – Sim, Cauê. Qualquer uma. Quero ver como você enxerga.

(Cauê, atrasado, ainda está folheando uma revista. Até que seus olhos dão com uma palavra num texto que ele não entende direito, mas a palavra, sim. Sorri, como um devasso.)

A Transformação Social e Econômica

Nos últimos anos, muitas sociedades passaram por transformações significativas. Contudo, essas mudanças não aconteceram de maneira repentina. Pelo contrário, o progresso foi paulatino. A introdução de novas tecnologias, por exemplo, fez com que a vida cotidiana de muitas pessoas se alterasse lentamente. Inicialmente, as mudanças pareciam pequenas e, talvez, até invisíveis, mas, com o tempo, os efeitos cumulativos tornaram-se claros. Hoje, é possível observar que a transformação de um setor econômico ou até mesmo de uma cultura social leva mais tempo do que imaginamos, sendo uma adaptação paulatina e constante.

(Essa maldita palavra pareceu grande demais diante dos olhos do aluno. Ninguém sabe como, mas parece que o discente assistira ao filme SuperBad e que adorava o personagem Seth, interpretado por Jonah Hill. Pegou a caneta de quatro cores, pegou uma folha limpa do caderno de matéria, e mandou brasa no desenho.)

...

(Antes do horário bater, a professora foi recolhendo as atividades. Pegou todas, até que, quando foi a carteira de Cauê, para pegar o desenho, deu um grito espalhafatoso, como se estivesse vendo a imagem do próprio capeta sendo desenhada pelo aluno):

 


 

 

 

 

segunda-feira, 10 de março de 2025

PRISÃO PRA QUÊ?

 Dino de Alcântara

 

Ainda estava mastigando um hambúrguer com um copo de refrigerante, quando o Soldado Farias recebeu um áudio do comandante do seu batalhão da Polícia Militar.

Ao ouvir o tal áudio, que dava ordens de investigação e captura do criminoso que havia praticado o horrendo estupro de uma mulher perto da Praça das Rosas, ficou furioso.

Nem terminou o hambúrguer, afastou-se um pouco do trailer de lanches, localizado no Bairro Curupira, e ligou para o comandante.

– Fala, meu soldado...

– Comandante... Como vai, meu chefe?

– Farias, tu precisa entrar em ação rápido. O governador quer aquele estuprador preso o mais rápido possível. O crime, como tu sabe, ganhou repercussão até no Jornal Nacional.

– Eu sei. Eu até vi as imagens. Sei quem é o monstro.

– Então, vai ser mais fácil...

– Fácil seria...

– Como assim, porra?

– Comandante, me desculpa a franqueza... mas eu fiz um esforço dos diabos, tive até que bater em nego para prender aquele desgraçado, não te lembra?

– Sim...

– Pois é... E era também por estupro. E o que aconteceu na audiência de custódia?

– Sim, eu sei.

– O teu amigo juiz, aquele filho de uma égua, mandou soltar aquele verme, mesmo sabendo que ele tinha estuprado aquela moça da Escola Normal.

– Mas agora ele vai ser preso.

– Pode ser, mas eu não vou prender mais não. Mande outro. Ou melhor: mande o juiz prender. Aliás... eu, se fosse o governador, mandava botar na mídia o nome do juiz e tudo mais, como cúmplice. Deve até ter levado uma graninha para liberar o criminoso...

– Tu está é doido!... Farias?

.....

– Farias?

.....

Farias estava terminando o hambúrguer.

 

terça-feira, 4 de março de 2025

ALUNA OU AVÓ?


 Dino de Alcântara

 

Um dos ambientes em que mais se encontram homens e mulheres vaidosos certamente são as academias. As de musculação, claro.

Dias desses, um professor amigo meu estava aguardando um aparelho para levantar alguns quilos nas costas, como burro de carga, quando se deparou com uma senhora na casa dos seus 45, 50 anos, mas que certamente faria Bentinho, de Dom Casmurro, morrer de ciúmes.

Ela olhou como se o estivesse reconhecendo. E ele também, mas, claro, só fingindo. Ela, ao que parece, não gostou de ser observada.

Perguntou-lhe secamente se ele a estava reconhecendo. Disse, depois de pensar um pouco, para que algum neurônio atrevido pensasse numa resposta...

– Você pareceu com uma aluna minha!

– Aluna, eu? – E riu-se – Melhora teu repertório, cara, que tá muito fraco.

Ele deve ter se lembrado da música "O Talento e a Formosura", de Catulo da Paixão-Cearense. Botou o tal neurônio para trabalhar. E como trabalhou!

– Desculpe, se não me fiz entender. Eu disse que parece com uma aluna minha, mas lógico que não é minha aluna. Pensei: não será a avó dela?

 

PELO SIM, PELO NÃO....

  Dino de Alcântara  CONTO-ANEDOTA   Não se sabe com precisão como no Maranhão as clínicas de depilação (sim... até nas partes íntimas) ...