segunda-feira, 24 de junho de 2024

O MAIOR SÃO JOÃO DO BRASIL!

 Humberto Campos de Alcântara

 

 

Para Tarcyene de Campina Grande

Quando o padre Antonio Vieira esteve no Maranhão, na década de 1650, escreveu dois sermões tendo os maranhenses como foco: O Sermão de Santo Antônio aos Peixes e Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. No primeiro, falando sobre o peixe roncador, disse: “Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! (...) E começando aqui pela nossa costa: no mesmo dia em que cheguei a ela [ao Maranhão], ouvindo os roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram o riso como a ira. É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?! (...)  Dizei-me: o espadarte por que não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua.”

Ninguém sabe dizer ao certo, mas corre à boca miúda que desde o dia em que o jesuíta disse essas palavras tão certeiras sobre o maranhense, que os habitantes da terrinha são considerados de língua grande, ou, como diziam os mais velhos do Cujupe, “só querem ser”.

Assim, em 2011, o então senador João Alberto estava em Brasília num encontro de alguns prefeitos do nordeste com a Ministra da Cultura do governo Dilma. Os chefes do executivo municipal estavam em busca de recursos para o São João daquele ano.

Numa sala especial do Ministério da Cultura, estavam além do Senador, os prefeitos de Campina Grande, de João Pessoa, de São Luís, o secretário de Cultura do Maranhão, entre outros. O prefeito de Campina Grande falava com entusiasmo à pequena plateia que o ouvia sobre a grandiosidade do São João da sua cidade:

– Campina Grande tem o maior São João do mundo. É uma coisa maravilhosa de se ver. Vem gente até da Ásia só para assistir às nossas quadrilhas. 

João Alberto não se conteve. Deixou a xícara de café sobre uma mesinha e se dirigiu para mais perto do prefeito paraibano:

– Cumé, prefeito? Vocês têm o maior “Son” João do mundo?

– Sim, senador. O maior São João do mundo é o nosso.

 João Alberto respirou fundo e falou olhando firme nos olhos do prefeito de Campina Grande:

Vocês até podem ter o maior “Son” João do mundo, mas do Brasil vocês não têm; porque quem tem o maior “Son” João do Brasil é o Maranhão.

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

O BISPO EM PENALVA

 Teatrinho a Vapor

Dino de Alcântara 


PERSONAGENS:

PREFEITO DE PENALVA – Homem de parcos conhecimentos filológicos e linguísticos, mas com uma teimosia grande em aprender os ditames gramaticais, para falar bem com as autoridades maranhenses.

O BISPO – Religioso com algumas falas e comportamentos extravagantes, sem receio de que fosse mal interpretado, uma vez que já era bastante idoso, não tendo mais nada a esperar do mundo.

Cenário: Praça principal da cidade de Penalva.

O Bispo vai chegando montado num lombo de um jumento, vindo da cidade de Viana. Calor insuportável! Tinha-se a impressão de que o religioso ia desmaiar a qualquer momento, dado o cansaço estampando no seu rosto. O prefeito se aproxima, sendo o primeiro a receber a autoridade eclesiástica. 

A cena passa-se em 1963.

 

PREFEITO (nervoso com a presença do sacerdote.) – Boa tarde, seu Bispo... Quer dizer... Eeeexcelência...

BISPO (Olhando para todos.) – Boa tarde, meus filhos!

PREFEITO (Com uma expressão que aprendera com o professor Jonas, do Ginásio Penalvense) Vossa reverendíssima não está cansada?

BISPO   (Com os olhos bem abertos.) – Cansada?

PREFEITO (Com ar de quem comete uma heresia, usando o feminino, quando deveria ter dito o masculino.) – É é é Cansa...sa...do...

BISPO (Interrompendo o prefeito, sem receio de estar falando uma anedota diante de todas as ovelhas de Cristo.)) – Meu filho, eu estou é morta!

segunda-feira, 10 de junho de 2024

O QUÊ?! DEPAUPERADO?!

 

 Dino de Alcântara

 


Uma anedota publicada no rodapé do Jornal do Povo rendeu muitos comentários no Café Caravelas, no afamado Largo do Carmo. O doutor Línio Braga jurava que o editor do matutino não apurara bem os fatos, publicando uma “asneira” como aquela. Por seu turno, o jornalista Mané Pereira disse que a anedota podia ser comprovada, porque ouvira do desembargador Teotônio Neves essa história.

Entrando no recinto o padre Julinho, a curiosidade falou mais alto. O sacerdote quis saber logo do que se tratava. Por que estavam com aquela questão. A princípio, não quiserem contar, mas, sem muita vergonha, Mané Pereira se levantou:

– Sente-se, padre Julinho.

Ele sentou-se. Pediu um café com leite e pão com manteiga.

– Diga, meu filho, do que se trata.

– Padre, a questão é que o doutor Línio Braga disse que Noronha nunca ia dizer uma asneira dessa.

– Que asneira?

– Então não leu o Jornal do Povo?

– Li, mas só algumas matérias. O que tem?

– Uma anedota de rodapé.

– Que anedota, meu filho! E eu vou ler uma besteira dessas? Estava pensando que era coisa séria!

– Então o seu padre vai desculpando.

– Estão desculpados, mas me conte logo o que era.

– Diz que Noronha estava na sala do escritório, quando chegou a secretária com um bilhete de um parente dele, lá do Pará, dizendo que não viria mais a São Luís porque estava depauperado.

– O quê, meu filho?!

– Depauperado. Isso estava no bilhete.

– Sei. Continua.

– Aí a secretária perguntou a Noronha o que era depauperado – que é descapitalizado, sem dinheiro, liso, entendeu?

– Meu filho, eu estudei latim no seminário. Eu sei o que é. Mas e aí? O que Noronha respondeu!

  Respondeu que o sujeito estava operado de fimose. 

Nessa hora, até quem estava na Garapeira de Guará ouviu a gargalhada do padre Julinho. 


 

 

terça-feira, 4 de junho de 2024

MODELO DE ESPOSA

 Teatrinho a Vapor


Dino de Alcântara

SABINO – Condutor de bondes da Ullen. É casado com Lurdinha, filha do seu Manduca.

MANDUCA – Sargento reformado da Polícia Militar, sogro de Sabino.

Cenário: Sala da casa de Manduca.

A cena passa-se em 1928.

 

SABINO (Com ar bastante tenso, falando baixo para ninguém ouvir.) – Sabe, seu Manduca, a vida lá em casa está um inferno. Daqui a pouco, eu não consigo entrar mais em casa, que os chavelhos estão batendo na coberta.

MANDUCA – (Com a calma que a situação lhe impunha.) – Tem paciência, meu filho. Com o tempo tudo isso passa.

SABINO – Passa como, seu Manduca? A Lurdinha tem me botado chavelho até com Jonoro, o vendedor de carvão. Raimunda Cavala diz que viu, outro dia, Mané Prosa no maior chamego dentro da rede com ela... 

MANDUCA – Até com Mané Prosa?

SABINO (Como quem confirma.) – Não num foi... Daqui a pouco até Babá tá dizendo que pega ela também...

MANDUCA – Olha.... Ela saiu igualzinha à mãe. Hoje, tu olha a patroa aqui em casa, diz que é um modelo de esposa, coisa e tal... mas aquilo já foi velhaca que só. Mas eu dei tempo ao tempo. A beleza dela foi se esvaindo até chegar ao que é hoje: uma matrona. E que boa companheira eu não ganhei.

SABINO – Mas, seu Manduca...

MANDUCA – Dê tempo ao tempo! Um dia a Lurdinha vai ser só tua e de mais ninguém! E aí, meu rapaz, tu vais ter uma esposa de verdade!  

 

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

              Dino de Alcântara                                                    Micro CONTO (ou será miniconto?) Há tempos o gerente da...