Humberto Campos de Alcântara
Para Tarcyene de Campina Grande
Quando o padre Antonio Vieira esteve no Maranhão, na década de 1650, escreveu dois sermões tendo os maranhenses como foco: O Sermão de Santo Antônio aos Peixes e Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. No primeiro, falando sobre o peixe roncador, disse: “Ah moradores do Maranhão, quanto eu vos pudera agora dizer neste caso! (...) E começando aqui pela nossa costa: no mesmo dia em que cheguei a ela [ao Maranhão], ouvindo os roncadores e vendo o seu tamanho, tanto me moveram o riso como a ira. É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?! (...) Dizei-me: o espadarte por que não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua.”
Ninguém sabe dizer ao certo, mas corre à boca miúda que desde o dia em que o jesuíta disse essas palavras tão certeiras sobre o maranhense, que os habitantes da terrinha são considerados de língua grande, ou, como diziam os mais velhos do Cujupe, “só querem ser”.
Assim, em 2011, o então senador João Alberto estava em Brasília num encontro de alguns prefeitos do nordeste com a Ministra da Cultura do governo Dilma. Os chefes do executivo municipal estavam em busca de recursos para o São João daquele ano.
Numa sala especial do Ministério da Cultura, estavam além do Senador, os prefeitos de Campina Grande, de João Pessoa, de São Luís, o secretário de Cultura do Maranhão, entre outros. O prefeito de Campina Grande falava com entusiasmo à pequena plateia que o ouvia sobre a grandiosidade do São João da sua cidade:
– Campina Grande tem o maior São João do mundo. É
uma coisa maravilhosa de se ver. Vem gente até da Ásia só para assistir às
nossas quadrilhas.
João Alberto não se conteve. Deixou a xícara de café sobre uma mesinha e se dirigiu para mais perto do prefeito paraibano:
– Cumé, prefeito? Vocês têm o maior “Son” João do mundo?
– Sim, senador. O maior São João do mundo é o nosso.
João Alberto respirou fundo e falou olhando firme nos olhos do prefeito de Campina Grande:
– Vocês até podem ter o maior “Son” João do mundo, mas do Brasil vocês não têm; porque quem tem o maior “Son” João do Brasil é o Maranhão.