Sentado na cadeira presidencial do Palácio do Planalto havia
mais de dois anos, Zé Sarney decidiu que era o momento propício para retribuir
a alguns homens de sua terra natal a grande contribuição que lhe deram ao longo
de sua caminhada, desde a sua vitoriosa eleição em 65 até o momento em que se
encontrava – comandando os rumos desse gigante chamado Brasil.
Foi assim que chamou o seu chefe de gabinete e lhe orientou
o seguinte: falar com o ministro da Educação e lhe pedir que construísse uma
obra no município maranhense de... (o nome não será mencionado porque, segundo
dizem as más línguas da Baixada Maranhense, continua em segredo de justiça)
cujo prefeito tinha sido (e era ainda) um grande correligionário seu, ajudando,
e muito, na corrida ao Palácio dos Leões.
De ordens em ordens, chegou ao Delegado do MEC no Maranhão,
que falou diretamente com o governador Cafeteira, que deu ordens expressas para
que fizessem uma boa escola no município, coisa de primeiro mundo.
Parece – mas não se pode provar – que foi do próprio
delegado do MEC a ideia: como o nome do prefeito homenageado era Hegino, se
faria uma escola em formato de H, para eternizar o nome daquele que tinha dado
um grande auxílio ao ilustre pinheirense.
A obra foi executada, como pediu o delegado, sem que o
prefeito soubesse dos detalhes da planta. Só deveria saber no dia da
inauguração, pois tratava-se de uma surpresa e surpresa não se conta antes.
Tudo foi feito conforme determinação do delegado. Os recursos
vieram diretamente do Ministério da Educação, sendo executadas pelo governo do
Estado do Maranhão.
No dia da inauguração, Sarney não pôde, como era de esperar,
comparecer, mas, representando o grande chefe da nação estava ele, o delegado
do ministério, além do secretário de Educação do Estado do Maranhão, deputados,
autoridades locais e estaduais, etc.
Conhecendo finalmente a obra, com todos os seus detalhes, o prefeito ficou
visivelmente emocionado, quando a autoridade da Educação lhe disse que seria sua, não do Governo Federal, a linda escola. A primeira-dama não cabia em si. Era uma grande
homenagem do presidente, que sabia reconhecer os homens de valor de sua terra.
Chamado a discursar, o Delegado do MEC disse que fizeram a
escola em formato de H, como podiam reparar, para eternizar o nome do grande político
no colégio. Assim, o H de Hegino se confundiria com o H de honra, de honradez, etc.
Ao que o prefeito, com cara de espanto, tentou falar ao
ouvido do orador, que não lhe ouviu nada, pois continuou falando.
Duas, três vezes, o prefeito tentou explicar algo ao orador,
mas ele parecia em êxtase no discurso, não lhe ouvindo nada.
Até que o prefeito falou bem alto:
– Doutor, eu me chamo Egino. É com E. Não tem H, siô.
Pálido, parecendo não acreditar naquilo, o delegado ficou pensando.
Como um cidadão desse se chama Egino e não Hegino. Quem foi o cabra que fez um
diabo desse, registrando-o sem o H? Ora essa.... Agora será com H. Não tem
jeito.
Depois de uma parada para um bom gole d’água, pegou o
microfone e desferiu:
– A escola tá em
forma de H, H de homem, porque aqui se tem um homem com H maiúsculo, um grande
homem.
As palmas estrondaram junto aos gritos de vivas ao prefeito.
Com um risinho tímido, o prefeito Egino, 1,48 de altura, já
contando com o salto do seu 752 da Vulcabrás, também bateu palmas...