Dino de Alcântara
Teatrinho a Vapor
A Neres, que me narrou esse episódio, num sonho, estando ele disfarçado de Zé Sarney. Minto. Não foi sonho. Foi pesadelo. Ele (Neres) estava até de bigode.
CATULO – Professor do IEMA. É bastante dedicado à Literatura.
DONA GERTRUDES – Mãe de Catulo. Está um pouco surda e com Alzheimer, embora não esqueça do filho querido, que, aliás, mora com ela.
LOURIVAL – Presidente da AML.
Cenário: Salão nobre da Academia Maranhense de Letras.
A cena passa-se em 2024.
PRÓLOGO: Lourival Serejo está fazendo uma conferência sobre o grande escritor tcheco no Salão da AML, celebrando o centenário do autor de O Processo. Na plateia, bem na frente, está o professor Catulo. Embora a organização do evento tenha pedido que os celulares ficassem no modo silencioso, o docente do IEMA não o fez, por uma razão: a mãezinha poderia precisar dele. Caso de doença permite algumas afrontas às etiquetas. Na cadeira ao lado, está José Neres, Mauro Vieira e Linda Barros. Quando o conferencista discorre sobre um tema presente no autor: “personagens com missões aterrorizantes”, o celular de Catulo toca, num volume mais alto do que manda a etiqueta. Ele atende.
CATULO – Alô! Mãe?
DONA GERTRUDES – ...
CATULO – O que foi?
DONA GERTRUDES – ...
CATULO – Senhora, estou aqui na AML.
DONA GERTRUDES – ...
CATULO (Pronunciando cada fonema como se fosse um vocábulo.) – A M L.
DONA GERTRUDES – ...
DONA GERTRUDES – Não, senhora. Não é IML. É AML. Academia Maranhense de Letras. Estou aqui. Vou já embora.
(Diante de olhares reprovadores do conferencista e de quase todos os ouvintes, Catulo desliga o celular e se retira do salão. Dizem as más línguas, que foi com a cara arrastando no chão.)
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