segunda-feira, 30 de junho de 2025

O GATO COVEIRO DE ALCÂNTARA

 Dino de Alcântara

                                                                CONTO-ANEDOTA

O gato coveiro - Ilustração feita com auxílio de IA.

Na cidade de Alcântara, Brito Pereira, jornalista  metido a leituras literárias, com uma boa biblioteca  em casa, indo de Stanislaw Ponte Preta a Guimarães  Rosa, parou um pouco a escrita que estava fazendo – um artigo sobre o carnaval de São Luís para o Jornal  Pequeno e para alguns portais (para os quais  colaborava) – e, com uma xícara de café, foi à janela  espiar a rua. 

Brito Pereira espiando a rua - Ilustração feita com auxílio de IA

Do outro lado da rua, num trechinho sem pedras,  um gato parou. Bisbilhotou o ambiente. Não havia  nenhum outro de sua espécie. Fez uma pequena cova, cavando com as garras. Pronta a cova, ele ficou em  posição de quem precisava lançar na terra o que o  organismo não queria mais. Sim, precisava expelir os  excrementos do intestino. Desobrigada a natureza,  com calma, lançou sobre a sua obra uma boa  quantidade de terra, sepultando para a eternidade  (não... Isso seria profanar os mortos...), jogando  num aterro sanitário o lixo que ele havia produzido.  E saiu de mansinho, como se nada tivesse feito ali. 

Nessa hora, o professor do IFMA, João Batista  Nogueira, que também parecia ter presenciado a  cena, dá com os olhos no jornalista - que espiava a cena. 

Sério, como se estivesse fazendo um texto crítico  para a revista Clima, o redator, apontando para a  cova do felino, desfere em tom de sátira: 



segunda-feira, 23 de junho de 2025

DUAS VIDAS, DOIS CAMINHOS...

                                                                                                                                 Dino de Alcântara

                                                  MINICONTO (uM POUCO À DIREITA)

  

(Paulo à esquerda e Rodney à direita - Imagem gerada com auxílio de IA)

Por uma dessas fatalidades que parecem descer do além, Paulo e Rodney nasceram no mesmo ano no bairro do Anjo da Guarda. Um sempre foi filho dedicado aos pais, honesto e trabalhador. O outro, Rodney, foi sempre o contrário. Não respeitava ninguém, nem o pai nem a mãe, que dirá os outros. O pai acabou indo para São Paulo, de lá não voltou mais. A mãe criou a peste sozinha, aos trancos e barrancos.

Enquanto Paulo se dedicou ao trabalho bem cedo, aos 13 anos, fazendo serviços de ajudante de pedreiro, o outro se deu a fazer pequenos furtos. 

Os dois tentaram a escola, mas Paulo ainda conseguiu ficar até a oitava série, enquanto Rodney nem isso. Saiu para nunca mais voltar, quando conseguiu assinar o nome num papel.


(Paulo e Rodney já crescidos no Anjo da Guarda - Imagem gerada com auxílio de IA)

Adultos, eram dois seres completamente diferentes. Um era muito respeitado pelo profissionalismo com que exercia suas tarefas de pedreiro e carpinteiro. Fazia telhados, colocava lajotas, etc. O outro não fazia nada, nem em casa. Apenas vivia de furtos e roubos. A mãe ralhava, ameaçava bater, mas não o fazia, porque, no fundo, tinha medo dele.

No último dia 7, os dois sofreram um acidente no mesmo horário. Paulo, no telhado da casa de seu Marcos, caiu, quando um dos caibros não resistiu. Fraturou várias costelas, além de quebrar um braço. Teve hemorragia por conta de um corte feio na perna.


(Paulo e Rodney em seus destinos. - imagem gerada com auxílio de IA)


Rodney, roubando uma moto no centro de São Luís, saiu em disparada para o Anjo da Guarda, mas acabou batendo num caminhão. Resultado: quebrou várias costelas e um braço também. Teve hemorragia por conta de um corte feio na perna.

A ambulância conseguiu chegar bem rápido e socorrer Rodney, mas demorou quase quarenta minutos para acudir Paulo. 

Os dois foram levados para o Socorrão II, por conta das fraturas. Um deles, o Rodney foi operado na mesma hora. Paulo, ainda está aguardando um leito. Por enquanto, está numa maca no corredor.

Os dois precisaram de sangue, por conta do corte profundo na perna. O sangue chegou rapidinho às veias de Rodney, mas para chegar ao corpo de Paulo precisou de uma batalha: encontrar doadores, coisa e tal.

De alta, Rodney correu atrás do Seguro DPVAT, porque, segundo um advogado, ele tinha direito. 

Ainda no hospital, Paulo, coitado, curte a sua dor de sua miséria. A mãe conseguiu vender a televisão, comprada com tanto sacrifício, para poder pagar as contas. Seguro DPVAT? Não. Ele não tem direito. E como não pagava o INSS, só vai poder receber, quando começar novamente a trabalhar, o que ninguém sabe direito!


(Rodney sai do hospital com o bolso cheio; Paulo permanece no leito- imagem gerada com auxílio de IA)







segunda-feira, 16 de junho de 2025

OS PECADORES E SEUS PECADOS

Dino de Alcântara


Conto-anedota
   
 
Desde aquela fatídica noite de quinta-feira, na Pensão da Dona Cotinha, no Portinho, em que havia conhecido Do Carmo, vinda das brenhas de Buriticupu, Felipe andava de esguelha em casa, com medo de descobrirem o “pecado”.

Felipe de Paulo fazendo uma vizitinha à Pensão  da D. Cotinha, no Portinho - Imagem feita com auxílio de IA


Quando ia urinar, caminhava até longe de casa, entrando no bananal, para ninguém perceber o seu gemido diante da dor. Estava com formigamento, expelindo pus sempre que esvaziava a bexiga. Com receio, sem o conhecimento medicinal necessário, ia levando esse tormento até quando Deus quisesse.

Felipe sofrendo ao esvaziar a bexiga - Imagem feita com auxílio de IA


Assim, na festa de Zuza, no Sete de Setembro, ainda estava com a “bicha no corpo”. Depois de uns goles de Cerma, enfrentava o sacrifício de aliviar-se perto de uma touceira de banana cacau. Percebendo o “mal” do amigo, Moscote saiu atrás de Felipe. Mal este puxava o cinto e abria o riri da calça, começava o suplício. Moscote chegou mais perto e deu sinais de que também se aliviaria. Olhando o amigo, indagou:

MOSCOTE – Como é, Filipe? Tá acagibado aí?

FELIPE – Siô, desde que pulei numa pequena em São Luís, estou assim. Botando pus toda hora.

MOSCOTE – Eu sei o que é isso. Sinto dor sempre. Estou com hemorroida doida. Toda vez que vou no mato, é aquela aflição. Não sai pus, mas sai sangue aqui atrás. O bicho dói que só.

FELIPE (Apontando para o pênis) – É, meu velho, cada um paga o seu pecado por onde pecou!
Cena final -  Imagem feita com auxílio de IA




segunda-feira, 9 de junho de 2025

ELE MERECIA COISA MELHOR

 Dino de Alcântara

 

Teatrinho a Vapor

  Imagem criada com auxílio da I.A.

 

ZÉ NOGUEIRA – Professor de Literatura do afamado Liceu Maranhense. É casado com Loló, mas não vive bem no relacionamento. 

BOCA DE SAPO – Jornalista do Jornal do Povo. Tem uma boca maior que o mundo. Não guarda segredo nem para os envolvidos.

 

Cenário: Mesa do Moto Bar. Largo do Carmo.

A cena passa-se em 1976.

 

BOCA DE SAPO (Sentando-se à mesa do professor.) – Que que há de novo, Zé?

ZÉ NOGUEIRA (Com uma caneca cheia de cerveja.) – Nada de novo. Tudo igual ao de ontem.

BOCA DE SAPO (Pedindo uma caneca também para acompanhar o professor.) – Rapaz, eu tenho um negócio pra te contar. Coisa séria.

ZÉ NOGUEIRA – Diga, homem. Não há segredos comigo. Pode falar.

BOCA DE SAPO – O negócio é o seguinte...

ZÉ NOGUEIRA – Desembucha...

BOCA DE SAPO – Não sei nem como começar...

ZÉ NOGUEIRA – Do começo.

BOCA DE SAPO – O caso é o seguinte: tua mulher, a Loló, ao que me disseram, está saindo com um médico da Santa Casa.

ZÉ NOGUEIRA – Hum!

BOCA DE SAPO – Parece que é o doutor Mendonça. Aquele cearense, bonitão!

ZÉ NOGUEIRA – Coitado dele!

BOCA DE SAPO – Por quê?

ZÉ NOGUEIRA – Ora, veja, meu amigo. Então o cara é médico. Deve ser rico e tem como amante a Loló? Com tanta mulher bonita na cidade...

 Imagem criada com auxílio da I.A.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

UM BRINDE À "POLÍTICA" MARANHENSE

 Dino de Alcântara

 Teatrinho a Vapor

Imagem criada com auxílio da I.A.


DEPUTADO FULGÊNCIO – Membro do Partido Social Cristão

DEPUTADO CURIÓ – Membro do Partido Republicano Maranhense

DEPUTADO MARCOLINO – Membro do Partido Social Democrático

 

Cenário: Jardim do Palácio dos Leões.

A cena passa-se em dezembro de 19...

 

PRÓLOGO: Jantar de confraternização do Governador e da bancada governista da Assembleia Legislativa. Após o jantar, os deputados mais chegados ao Governador permanecem ainda no palácio, saboreando umas delícias que o chefe do executivo estadual havia mandado preparar especialmente para a ocasião. Até um bom licor de Jenipapo, feito por Bazilha, do Cujupe, estava sobre a mesa do barzinho. Os deputados de uma legislatura tranquila, com dois gatos pingados resmungando e berrando de quando em vez pela oposição, deixam de lado a política e passam a tratar da vida alheia. Entram num tema delicado: o comportamento das mulheres dos excelentíssimos políticos do Maranhão.

 

DEPUTADO CURIÓ (Tomando o nobre colega Deputado Fulgêncio pelo braço e o levando para os jardins do Palácio, já perto da muralha com a vista para a foz do Rio Anil.) – Mas, então, deputado... Dizem as más do Maranhão que metade da assembleia já rondou o terreiro do Deputado Cutrim...

DEPUTADO FULGÊNCIO (Rindo.) – Metade, não... Mas sei de uns três deputados que até se deitaram na cama do casal.

DEPUTADO MARCOLINO – (Que havia acompanhado os dois.) – Sério isso?

DEPUTADO FULGÊNCIO – Estou te falando.

DEPUTADO CURIÓ – E a mulher do Deputado Juquinha?

DEPUTADO MARCOLINO – Ela não, pelo amor de Deus. Parece uma santa.

DEPUTADO FULGÊNCIO – Ah... Vocês começaram agora na vida pública do Maranhão. Essa até o governador já passou o rodo.

DEPUTADO MARCOLINO – Não brinca.

DEPUTADO FULGÊNCIO – Sim.

DEPUTADO MARCOLINO – E a Mulher do Secretário da Casa Civil.

DEPUTADO FULGÊNCIO – Essa só gosta de militar. Anda saindo com um coronel da Polícia.

DEPUTADO MARCOLINO – Olha... Por essa eu botava a minha mão no fogo.

DEPUTADO FULGÊNCIO (Com um risinho safado.) – Pois ia queimar toda.

DEPUTADO CURIÓ – E a Dona Eulália, mulher do presidente da Assembleia?

DEPUTADO FULGÊNCIO (Mudando a expressão do rosto) – Essa não é osso para andar em boca de cachorro. Alto lá!

DEPUTADO CURIÓ – Como assim?

DEPUTADO FULGÊNCIO – Dona Eulália é mulher de respeito. Não é de bandalheira. É bom os senhores não falarem no nome dessa santa.

DEPUTADO CURIÓ – Tá bom.

DEPUTADO MARCOLINO – Desculpa, deputado.

DEPUTADO FULGÊNCIO – Estão desculpados.

DEPUTADO CURIÓ – Mas... só mais uma coisinha...

DEPUTADO FULGÊNCIO – O quê?

DEPUTADO CURIÓ – Ela nunca saiu com ninguém, depois que se casou?

DEPUTADO FULGÊNCIO – Estou falando... ela não é de bandalheira. Ela é fiel ao marido. (E, num rasgo de sinceridade.) E a mim, que sou seu amante.




 

 

QUALIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

              Dino de Alcântara                                                    Micro CONTO (ou será miniconto?) Há tempos o gerente da...